VERTicalidade

Ponto prévio para talibans pseudo-intelectuais: compro a Vert sempre e continuarei a comprar enquanto for a única revista de Bodyboard do burgo, o que tendo em conta as coisas do mercado, se manterá durante algum tempo. E creio que isto está ligado ao facto de ainda só haver uma geração de bodyboarders com independêcia financeira.

2º Ponto prévio: comparar a Surf Portugal à Vert não é comparar o surf ao bodyboard, embora as diferenças entre elas tenham a ver com o estádio embrionário de uma cultura de bodyboard que ainda não caminha pelos próprios pés e uma cultura do surf na sua adolescência.

Entretanto, agradeço a oportunidade que me têm dado de concordar com o Cocas. Conheço-o há já uns anos e não me lembro de estarmos de acordo tanta vez. A verdade é que estou a ficar preocupado...

Posto isto, a tese: Mas é evidente que a Surf Portugal é melhor que a VERT. Deixei de comprar a Surf Portugal por que me interessa pouco o surf português, mas li as suficientes para perceber que no ponto em que as duas divergem, ou seja, na tentativa de um jornalismo de ondas, a VERT é um produto inferior.

Não sei se com isto ofendo os meus colegas de blogue que escrevem para a VERT, nem sei se ofendo o fundador/director da revista. Não é caso para isso, até porque admiro o que fazem. Sei bem o que custa (literalmente) fazer uma publicação num país que não lê, mas isso não justifica a falta de critério jornalístico, os textos pueris e inconsequentes.

Se querem fazer comparações, comparem com a Soup -- a minha preferida, embora precária --, ou até a Free Surf, que apesar de ser, grafica e redactorialmente, uma boneca de trapos e pobre fotograficamente, tem alguns artigos com interesse e algumas belíssimas crónicas. E aqui até tiro o meu chapéu para o Pedro Arruda. E esse não é jornalista, é escritor.

Creio que já escrevi isto neste espaço, mas a sensação que me dá é que alguns textos da VERT só servem para emoldurar fotos. Como é possível fazer uma reportagem sobre o último SE só na primeira pessoa, praticamente sem declarações dos protagonistas? Estiveram lá 2 gerações de BB nacional, do Norte ao Sul do país, mais um gajo que será, inevitavelmente, campeão mundial um dia destes. E gastaram-se caracteres a falar do hotel e do bom ambiente e sei lá mas o quê... onde estavam os protagonistas? Nas fotos...

Ainda não tinha falado disto por pudor e por respeito ao esforço de quem mete a VERT cá fora. É um projecto bem conseguido e que evolui a olhos vistos. Mas evolui graficamente. Para os putos que só gostam de ver os bonecos e para os riders nacionais que gostam de se ver nas fotos, talvez sirva. Mas para a malta que gostaria de ler umas coisas, é manifestamente pouco. E muito menos que a Surf Portugal.

PS: Sou jornalista profissional há 12 anos, 10 dos quais ligado ao desporto, em jornal e revista, e co-autor de uma obra de referência encicolpédica acerca do desporto português dos últimos 50 anos. Isto não é para estar aqui a polir galões, mas para prevenir algumas questões idiotas. Sei que elas vêm aí, mas este espaço não discrimina entre essas e as outras. Ah, mas eu discrimino, pelo que só responderei às "outras".