O dia

O Step into Liquid deixou-me uma frase a ecoar na cabeça - "Há um dia na vida de todos os surfistas em que percebemos que nunca vamos deixar de apanhar ondas". Fiquei na dúvida: Será que já passei por esse dia?

Não se percebe ao fim de dois, três ou cinco anos. Não se percebe no final do primeiro rollo, nem mesmo do primeiro tubo. Não se percebe no final do primeiro ou do segundo inverno passado dentro de água, nem mesmo quando se surfa debaixo de uma Vaga de Frio. O entusiasmo, a novidade e a pica inicial podem durar um bom par de anos, mas segundo um dos Pipe Masters só ao fim de 20 anos é que a "verdadeira viagem começa". Ainda não tenho 20 anos de Bodyboard, mas já faltou bem mais.

Hoje ao acordar corri, entre uma e outra sms de parabéns, para o computador e o Beachcam acabou por me mandar para a Costa. Nunca a frase "0.5 a 1 M, Boas condições" me soara tão bem. Há 29 anos berrei pela primeira vez e hoje o primeiro som que me saíu da boca voltou a ser um grito: "OOOOOOOOIIIIIIIIIIII..."

Belas ondas as da praia do CDS. Quem cresceu no mar de Peniche, quando vê uma onda com um metro de altura a estalar prepara as costas para o pior. Na Costa, as espumas são bem mais gentis e nem por isso o divertimento é menor. Ok, não há tubos como nos Super, nem ondas compridas como na Baía, mas ainda assim andam por lá uns belos cotovelos...

Foi ao sair da água que percebi. Sem ter encontrado uma única cara conhecida e sem ter trocado mais que duas frases no pico, vinha a rir sozinho. Bastou parar, olhar para trás e percebi: nunca vou deixar de apanhar ondas. Estou condenado a apanhar frio nos ossos, esfolar os pés e arranhar o pescoço até ao fim da vida. Serei velhote e os meus netos nunca se queixarão de falta de companhia para ir à praia. Os meus filhos - PARABÉNS por esse "drop gigante" !! - poderão sempre contar comigo na areia para lhes dar um par de pés-de-pato ou outra prancha para acabarem o heat em Pipeline.

God only knows


Bons Tubos