Fire

A capa do filme faz lembrar um quadro da corrente surrealista, não identificando um filme de bodyboard - Aliás não se trata de um filme de bodyboard...

Do que reti do disco n.º 1, o filme começa com imagens aleatórias do céu e ondas, com algumas frases pelo meio. O ritmo do filme é lento, suave, um pouco ao estilo do Manoel de Oliveira, mas com meia dúzia de bicas no goto.

Mais à frente surgem colecções de filmagens do Mike em ondas belas e redondas, Pipe, Teahupo, Bali, etc.

Já no disco n.º 2 temos mais acção e algum diálogo. Julgo que a parte dos anos 80 podia ter sido mais bem explorada, infelizmente foi breve e rápida.

No fundo, o Mike tenta explicar o acto de surfar, o porquê - why do we surf? Ele fala-nos da onda, da energia e a simbiose dessa força com o indivíduo, em que o coloca num plano existencial próprio - em ser parte dessa energia.

Não é um filme consesual, é porventura algo ortodoxo, pois a sua compreensão desdobra-se em frases misteriosas e imagens que poderão ter um sentido duplo. É profundo e filosófico - eu noto alguma afinidade com a corrente existencialista, que aliás é a que está na moda.

Existe algum crivo político, é explícito nalgumas partes que é anti-governamental (Bush) e expressa preocupação com o meio ambiente e com a crise energética. Por vezes pensei naqueles profetas da desgraça a anunciar o fim do mundo e possivelmente o filme tenta ser uma espécie de aviso de que "the end is coming"...

Pessoalmente não gostei, achei-o muito abstracto, vago e em muitas partes não sabemos o que é que se está a passar. É certo que mostra-nos algumas perspectivas das ondas que nunca tinhamos visto, mas isso não chega para se conseguir um bom filme. Estava à espera de mais registos auto biográficos.

Boas ondas