14 abril 2009

o world tour

O sapo-boi foi introduzido em Queensland no início dos anos de 1930 para combater um escaravelho que era uma dor de cabeça para os agricultores que tinham plantações de cana-de-açúcar. Na altura esperava-se que o sapo, vindo directamente da Amazónia, saltasse o suficiente para dar cabo do problema. Mas não, os escaravelhos continuaram a alimentar-se sossegadamente no topo das canas-de-açúcar onde permaneciam inalcançáveis para as pernas dos sapos. O projecto foi abandonado e sapo ficou um território imenso para explorar, que foi o que fez, tornando-se ele próprio numa praga. aqui.

A alegoria do sapo boi encaixa perfeitamente noutras situações em que se tenta introduzir algo inusitado a um habitat estranho. Mesmo pensando que se está a fazer o melhor, os resultados são sempre meios problemas ou o contrário do que se pretendia.

Encaixa também ao panorama na austrália ao qual se plasmou um modelo competitivo que se não lhes era completamente estranho, pelo menos não lhes dizia nada. Lembrem-se que os aussies derrocaram a extinta GOB e fundaram a IBA praticamente sem qualquer experiência organizativa. A legitimidade que lhes assistia veio apenas dos filmes e das manobras. Na altura o que previsivelmente tentaram fazer, o supertour, foi uma espécie de continuação daquilo que já faziam, freesurf, praticamente nos mesmos spots e sobre os mesmos moldes, quase um peer pool informal sem pressão nem método. Claro que o sistema descambou mas a IBA continuou em mãos australianas como forma submissa de manter os australianos no tour. No entanto os campeonatos continuaram a ser nos sítios do costume, organizados pelas pessoas do costume e da austrália nem uma novidade, isto apesar dos 4 títulos mundiais entretanto endossados aquele país.

Este ténue equilibrio foi funcionando enquanto as duas premissas essenciais foram por chance mantidas: Um campeão mundial aussie e a etapa mais importante do tour na austrália. No entanto Uri valadao desfez a primeira ilusão, de que a autralia dominava o tour, deixando um top 16 à mostra e totalmente despovoado de australianos. A crise, e a falta de iniciativa australiana fizeram o resto, a queda do evento de sharkisland incapaz sequer de cumprir os requisitos mínimos da IBA. A diáfana cortina do "tour australiano" caíu de vez, e os bodyboarders viram-se no mesmo sítio onde estavam há uma dezena de anos atrás. E os fantasmas da GOB voltaram a agitar-se uma vez mais.

Os australianos foram na última decada exímios produtores de bodyboard da mais fina qualidade, tudo com o dinheiro e tempo que poupavam dos campeonatos. Na verdade o australian way of life tornou-se ele próprio uma carreira, com objectivos e cadências muito próprias e definidas. São um caso modelar de adaptação a este mundo novo, da internet, dos media, das caixas estanques e das motas de àgua. E conquistaram o mundo dessa maneira. Mas em competição são no geral incompetentes e avessos. Simplesmente não é o que fazem melhor. Este ano pode ser que os campeonatos de peniche, nazaré, açores e até mesmo sintra lhes passem uma mensagem.

13 comentários:

  1. Não sendo o maior conhecedor dos bastidores do BB internacional e à partida sendo favorável à exclusão de Shark Island - se a ideia é ter um campeonato profissional não podem existir etapas a feijões ... - convém não esquecer que os aussies fizeram mais pelo BB que qualquer outra nação. Afinal, são eles que vendem as pranchas que os putos veneram, são eles que fazem as manobras que os nossos craques tentam imitar e são ele que, no limitem, dropam as ondas que os 'porkitos' tanto procuram.
    Sou insuspeito para defender aussies - a minha prancha até é hawaian made - mas estou convencido que os Ben Player Project e os Joker fazem mais pelo desporto que um campeonato Mundial que, olhando com frieza, é tudo menos profissional.

    Naturalmente que isso não lhe dá direitos especiais, mas convém não esquecer que se dependesse de hawaianos, brasileiros ou portugueses - sim nós que nem uma federação temos - o BB há muito que teria desaparecido ...

    Cocas

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  2. podes defender quanto quiseres os australianos. Eu proprio os defendo. são os melhores. Até porque investem tudo nisso. Mas a estruturar competições um desastre.

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  3. Pois. Parece que sim! Mas cheira-me que é mais ao menos como com as mulheres. "Não se pode viver com elas, nem se pode viver sem elas"!
    Cocas

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  4. Australianos avessos à competição?...

    O caso da Austrália lembra o Brasil no futebol. É verdade que já tiveram selecções que, apesar de jogarem o futebol mais bonito, não ganhavam campeonatos. Mas, de quando em qiando, quando a arte e o pragmatismo se encontram...

    Mas alguém tem dúvidas que se os locais dos campeonatos fossem escolhidos em função apenas das ondas, os australianos dominariam isto?

    Com uma ou outra honrosa excepção, é certo, mas até algumas das excepções já são mais australianas que outra coisa. Falei com Pierre Louis Costes quando esteve na Nazaré e ao inglês do rapaz só faltava acrescentar um "mate" de quando em quando, tão aussie que era.

    Agora em ondas de qualidade "B" ou em ondas boas mas em provas sem período de espera (porque a malta é pobre...) os campeonatos e os campeões como Uri Valadão continuarão a ser olhados de lado. E com alguma razão, acrescente-se.

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  5. Mas alguém tem dúvidas que se os locais dos campeonatos fossem escolhidos em função apenas das ondas, os australianos dominariam isto?mr charles coloco-te então esta questão, achas que, considerando isso, são os brasileiros ou os portugueses que tem de organizar os sharkisland challenges?
    O que deveriam estar a fazer neste momento os patrocinadores e amigos do ryan hardy?

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  6. Acho que estamos a misturar coisas diferentes. O problema que subjaz a isto é termos organizações localmente administradas, com o papel da IBA tão reduzido. Mas tudo vai parar a uma questão, que tem a ver com aquilo com que se compra os bifes. Não há dinheiro, não há organização.

    Se a Austrália é o melhor mercado, porque é que não aposta mais no IBA Tour? Citando o meu amigo Cocas, o Ben Player Project vende mais tábuas. Mas isto tem a ver com o tal pecado original que referi: ninguém acredita que o campeão do Mundo Uri Valadão surfe mais que o Ryan Hardy e seus amigos.

    Ou seja, os patrocinadores do "Ryan Hardy e seus amigos" perceberam que precisam pouco do IBA Tour. O fim (temporário, espero de Shark Island é demonstração disto mesmo) e isso preocupa-me.

    PS: Mas precisamos de Shark Island? Façam um campeonato na Cave :)

    PS2: Mas acho que a Nazaré é capaz de mudar uma coisa ou duas no panorama. A ver vamos.

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  7. exactamente, o que deixa a iba numa posição muuuito ambigua. Por um lado ter de efectivamente montar um circuito mundial, que é a sua primeira função. E por outro ter de lidar com os caprichos dos melhores do mundo (patrocinadores incluídos) que estão com a cabeça totalmente fora do tour.

    Nesse sentido compreende-se o coup de force da IBA. Esvaziando o sharkisland de autoridade está-se a evitar que este faça concorrencia à propria iba nos moldes que entender.

    o surfe, que tambem teve os seus uris (alguem se lembra do damien hardman?) solucionou isto com um top 40 protecionadissimo e etapas com interesses inequivocos das próprias marcas que patrocinam os atletas.

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  8. Creio que se pode aprender algo com a organização do surf, mas eles contam com uma alavancagem financeira que não tem paralelo no BB, como sabes. Mas quando digo que se pode aprender é com o que eles fazem de bom e, sobretudo, com o que fazem de mal.

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  9. Quando toda a gente do surf fala mal do circo que é a ATP agente inveja :S! Corrupção, batota, riders saturados..

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  10. "Sobretudo o que fazem de mal..."

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  11. Right :)! Acho que se tivesses dinheiro faziamos 100x melhor! A etapa dos açores vai dar ai uma liçaozinha eheh

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  12. Eu só acho estranho em 7 empresas que patrocinam o SIC não consigam arrnjar o dinheiro... Se o BB é assim tão relevante na Austrália. Por outro lado no Brasil, uma país economicamente inferior consegue na boa estabelecer 2 circuitos.

    B

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